RICARDO DIAS
( BRASIL – SÃO PAULO )
Campos Elísios – SP.
PÉRGULA LITERÁRIA VI. 6º. Concurso Nacional de Poesias “Poeta Nuno Álvaro Pereira.” Valença: Editora Valença, 2004. 202 p.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda
SONHO SOBRE CHUVA
Chovia sobre mim dentro da sala, sem porta ou janela a adorná-la,
A água se empenhando a inundá-la, por não haver como escoar;
Sons pausados e surdos ouvi, em direção a eles o rosto pendi
Um espelho de relance percebi, que não tinha conseguido notar;
Na imagem refletida vi quem fez a batida, que não julgara causar,
Do lado de lá não havia chuva. Era de se estranhar.
“Por que não chove do seu lado?”, perguntei ao reflexo, consternado.
Que repetiu a questão que eu havia formulado, sem nada mais falar.
“Aqui chove”, disse eu, com minhas palavras ele respondeu
E por si mesmo se moveu, maldito reflexo a me enganar.
Lá não havia água mas o outro, sem mágoa, me impedia de passar.
Eu não fugiria da chuva. Era o que tentava expressar.
Um demônio aquela figura, se do inferno, vil criatura,
Divertindo-se com minha penúria, ali a me acossar.
Desejando a ele má sorte, em seu rosto dei um soco forte
E livre fiquei de seu porte, quando o espelho vi quebrar.
Cacos afundando e minha mão latejando, toda a sangrar.
Mas não cessou a chuva. Era algo a lamentar.
Em torpor estava pela umidade, já me faltava claridade,
Por que sofrer tal fatalidade, eu que nada tinha a pagar?
Soltei um gemido pungente por causa da dor veemente
Enquanto a água, de repente, preencheu todo o lugar;
Agora me era crível já não ser possível eu sugar o ar.
Vi carpas na chuva. Era pra admirar.
Sonhava que não chovia em uma sala sem paredes e vazia
Onde portas e janelas havia, no sonho que não pude realizar.
Vi cacos de espelho caídos, despedaçados e esquecidos,
Como sentimentos suprimidos que não podiam mais voltar.
Evitei-me com cautela e fui a janela para o céu observar;
Devia ser sonho sobre chuva. Era natural de se pensar.
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Página publicada em janeiro de 2024.
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